Rosa e Armando se casaram em uma cerimônia cheia de pompas, jurando amor eterno. Educada que só ela, Rosa convenceu o agora maridão a um evento aberto à toda cidade. Segundo a mulher, ela não conseguiria fazer uma festa e deixar de convidar as pessoas que gostava.
Os dois formavam um casal daqueles inseparáveis. Viviam juntos para cima e para baixo e chegavam a causar inveja nos outros casais que passavam mais tempo brigando que se amando.
Armando não era um cara de se jogar fora, é verdade, mas a estrela do casal era a Rosa. Linda, extremamente educada e sempre de alto astral, a moça era venerada pela população. Não havia quem não a conhecesse e, mais do que isso, a respeitasse.
Ela, é claro, fazia jus à fama. Não deixava de desejar bom dia aos vizinhos todos os dias e oferecer bolo aos trabalhadores da região, que por sinal, conhecia todos pelo nome.
Os anos passavam e a fama do casal só aumentava, assim como o amor e cumplicidade entre os dois. Não havia um dia sequer que o Armando não voltava para casa com um presente para a esposa. Uma lembrancinha, que fosse.
Tudo corria às mil maravilhas até que num belo dia o Armando recebeu uma proposta de trabalho. O problema é que ele deveria passar quatro meses longe de casa, incomunicável. O desespero bateu e ele não sabia como fazer para ficar tanto tempo longe da amada. E, mais do que isso, como recompensa-la depois de tantos dias fora.
Mas a grana era boa e, depois de muito choro, o casal decidiu que ele deveria aceitar a proposta. No domingo a noite Armando terminou de arrumar as malas e se despediu da esposa, prometendo voltar com o melhor presente que ela pudesse imaginar.
Sem deixar de pensar um dia sequer no marido, Rosa manteve a rotina e sua educação costumeira, sendo simpática e prestativa com os vizinhos, oferecendo bolo aos trabalhadores e dizendo para quem quisesse ouvir quantos dias faltavam para o Armando voltar.
Os meses até que passaram rápido, mas no dia combinado, nada do Armando. No dia seguinte, nada de novo. Nos outros dias, a mesma história.
Rosa começou a ficar nervosa, preocupada. Conseguiu entrar em contato com a empresa que havia contratado o marido e recebeu informações de que ele havia voltado para casa em segurança.
Armando havia simplesmente sumido. Desapareceu. Ninguém tinha mais notícias.
O desespero bateu, os meses se passaram e Rosa entrou em depressão quando finalmente o marido foi dado como morto. A mulher não saia mais de casa, não queria papo com os vizinhos e muito menos oferecer bolo para os trabalhadores. Ela simplesmente não poderia mais viver sem ele.
O clima de tristeza tomou conta da casa por mais de um ano até que a Rosa resolveu vencer o luto e a depressão para voltar a sorrir.
Sem avisar ninguém, num belo dia de verão ela decidiu sair de casa para viver. Voltou a ser a boa e velha Rosa de sempre, linda, simpática e, claro, educada.
Os homens da cidade não conseguiam esconder a satisfação em vê-la novamente desfilando pelas ruas da região e, com todo respeito, começaram a dar em cima da mulher que até tentou relutar, mas acabou cedendo aos encantos do Orestes.
O Armando agora era uma página virada e não demorou muito para os dois se casarem, com direito a festa e tudo.
O novo casal vivia feliz até que em uma noite qualquer Rosa escutou um barulho fora de casa e foi até o portão para ver o que poderia ser.
A surpresa foi tanta que a mulher quase caiu preta e dura no chão ao se deparar com o Armando embrulhado para presente parado na porta de sua casa.
Ele pediu desculpas pela demora para voltar de viagem, mas explicou que havia passado esse tempo todo tentando encontrar o presente perfeito para a esposa, até entender que não haveria presente melhor nesse mundo do que ele mesmo de volta.
Educada como sempre, mesmo detestando aquela situação, Rosa só conseguia agradecer, até que o Orestes apareceu para ver o que estava acontecendo.
Ao perceber que aquele homem agora ocupava o seu lugar no coração da Rosa, Armando perdeu as estribeiras e passou a xingar a amada de tudo que era nome. Orestes, é claro, tomou as dores da esposa e tentou defender. Mas Armando não queria mais saber e partiu pra porrada.
A essa altura do campeonato a cidade inteira já estava em frente à casa, atiçada com o acontecimento. Disseram até que rolou uma bolsa de apostas para saber quem venceria a briga.
Consumido pelo ódio, Armando não teve a menor dificuldade para acabar com o Orestes, enquanto a Rosa, sem saber como reagir e com uma infinidade de pensamentos passando pela sua cabeça, assistia tudo àquilo.
Mas para o Orestes, pior mesmo do que a surra, foi o fato de ter sido obrigado a aceitar que a partir daquela noite o Armando iria morar na casa deles. Para a Rosa seria muita falta de educação não aceitar o presente.